2007-03-30

A Lição de Salazar (2)

(continuação)

Podemos entretanto perguntar o porquê desta vitória. Nos últimos dias muitas interpretações foram feitas e eu tomo a liberdade de tecer aqui as minhas...
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Desiludam-se os mais saudusistas e descansem os alarmistas, não me parece que os portugueses queiram o Estado Novo de volta. Parece existir sim um apelo à recuperação da autoridade e do respeito, não só ao estado - que por vezes não faz por ser respeitado - nem aos políticos - que parecem nem querer ser respeitados - mas, na generalidade, a toda a sociedade portuguesa.
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Conquistámos a liberdade de expressão, mas a verdade é que a entendemos por liberdade para dizer tudo o que nos vai na cabeça sem respeitar os outros. Poder dizer o que se pensa não invalida que se respeite o outro do qual se fala - seja pessoa ou instituição. Infelizmente são muitas vezes os políticos que dão o pior exemplo.
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Conquistámos a liberdade de nos organizar livremente em associações de carácter político (e não só), mas não sabemos conviver nessas associações com o espírito democrático que as devia reger. Mais uma vez, e actualmente está bem patente, muitas vezes são os próprios políticos que dão o mau exemplo.
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Conquistámos o direito ao voto, mas a abstenção atinge níveis absurdos para um país onde um dia por ano o pessoal saca de um cravo vermelho e grita que, unido, o povo jamais será vencido.
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No tempo de Salazar não tinhamos liberdade de expressão, mas os jornais não estavam pejados de críticas ocas que, espremidas, só significam 'eu queria estar no lugar onde ele está'. No tempo de Salazar só existia um partido legal, mas pelo menos o pessoal desse partido não andava nas bocas do mundo, não existiam senhoras a demitir-se dos cargos por terem levado porrada de um colega, não existiam guerras civís internas na luta pelo poleiro, etc. No tempo de Salazar as eleições não eram livres e por isso mesmo as pessoas não tinham que inventar desculpas para não irem votar.
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Não, não me parece que os portugueses queiram voltar atrás, mas - apesar das votações de Salazar e Cunhal terem sido decerto 'inflacionadas' por grupos de votantes cativos bastante motivados - acho que a democrática vitória do nosso ex-ditador'zinho' poderá ser um alerta para o descontentameto com os nossos políticos e com a falta de autoridade e de respeito na nossa sociedade...
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Salazar foi um político que o soube ser, pena é que não fosse democrata. Populista e demagogo, como todos os políticos, utilizou o cinema e as artes como meio para transmitir a visão oficial do estilo de vida que queria para os portugueses, mas ninguém o viu a correr meias maratonas... pois é, Sócrates ganha um aspecto mais popular ao correr junto de todos os concorrentes, mas Salazar nunca viu publicado no jornal que de um ano para outro tinha demorado mais 27 minutos a completar a prova. Salazar sabia que ganhava todas as eleições que concorresse, mas ninguém o viu a fazer a palhaçada de se demitir do seu cargo para ir novamente a umas eleições - ganhas à partida -, vitimizando-se, coitadinho, que estavam a atacar a sua autonomia, como recentemente sucedeu no nosso país...
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Acho que os portugueses não querem a velha senhora de volta... querem somente pessoas que lhes inspirem confiança. Não querem temor, não querem medo, querem respeito e autoridade, querem segurança, etc.
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Salazar, para seu grande azar, parece ter sido visto como personificação de tudo isto. À direita e à esquerda, deviam ver em Salazar um exemplo, não de grande democrata que não foi, mas de grande politico. Esta parece ser a grande 'Lição de Salazar' no século XXI.
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Pequena nota àqueles que me conhecem: Não, não me vendi à direita, apenas tento ver as coisas sem ter preconceitos políticos a turvar a vista. FJM, não penses que depois destes dois posts me vou filiar no teu partido, vou continuar independente e livre para votar em quem me parecer ser melhor em cada momento. (lol) - Desculpem o LOL, não se vai repetir muitas vezes.

3 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com boa parte da análise.
Um abraço.

Anónimo disse...

Estás aqui, estás numa jota...LOL

fjm

Anónimo disse...

comunas = filhos da puta